Não sou fã de carteirinha do Woody Allen, visto que alguns filmes dele eu acabo gostando, de outros eu simplesmente não consigo gostar. Fiquei contente em constatar que esse é um dos do primeiro grupo.
Usando e abusando dos cenários espanhóis como plano de fundo, ele conseguiu trazer um charme a mais para uma história que consegue fugir um pouco do comum. Não deixa de ser um filme dentro do estilo "idas e vindas e confusões de relacionamento" já típicos de Allen, mas alguns ingredientes deram um tempero de novidade à velha fórmula. A ambientção espanhola, a presença dos ótimos Javier Bardem e Penélope Cruz, e a dinâmica das interações entre os personagens, que no roteiro ficam críveis e menos neuróticos (mesmo nos momentos de maior neurose) que o normal dos filmes mais emblemáticos do diretor.
A escolha das belas atrizes Rebecca Hall e Scarlett Johansson, respectivamente como Vicky e Cristina, também trouxe um ponto de qualidade ao filme. Ambas perfeitamente bem nos papéis, Rebecca como a aparentemente segura de si Vicky que tem suas certezas abaladas por uma paixão repentina, e Scarlett, iluminando a tela como sempre, no papel de uma eternamente insatisfeita Cristina, que mesmo diante do que poderia ser um amor para toda vida, acaba escolhendo a dúvida. Javier Bardem e Penélope Cruz completam o quarteto principal, como um ex-casal passional, que devido a intensas tempestades emocionais não consegue ficar junto nem tampouco deixar de se amar loucamente, mesmo após uma conturbada separação.
A chegada das americanas na vida desse ex-casal mostra que como quase tudo na vida, estamos a um passo sempre da perdição ou do paraiso, depende apenas do lado pra onde esse passo é dado. Misturado tudo isso, Woody Allen cozinhou uma bela Paella em forma de filme, que permite variadas leituras e nos brinda com boas performances, belas imagens e praticamente pede um vinho para ser melhor apreciado.