terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Autoestima

© building-self-esteem.net

Ter autoestima, é ter por si
O mais profundo respeito,
É no silêncio, o coração
Batendo calmo no peito
Sem precisar de afirmação,
Reconhecer-se com valor
E o amor por matéria prima,
Construir-se então daí.

Autoestima é tesouro guardado,
É renda, provento, é garantia
É ter segurança, um resguardo
De qualquer tormenta vizinha

Autoestima, é serviço prestado
A si, e à realidade que te encerra
Quem tem consigo ‘se termo quitado
Dificilmente até, com os outros erra.

Autoestima, é valoroso penhor
Necessário à alma, educação
Pois na cartilha de todo amor
Autoestima é a primeira lição

Publicado no Recanto das Letras em 19/09/2010

O Calor Não Gosta de Mim


© TheMuttRoom.com

Não faz calor. O que sinto é algo que ultrapassa a definição de calor. O apocalipse existe, e se parece com um forno. Os poucos sobreviventes correm de um lado para o outro em busca de um ar-condicionado ou, na pior das hipóteses, de uma pouco eficiente sombra. É um período de suor, de gente estranha, de correrias sem sentido e sorvetes derretendo tristemente antes de serem consumidos. Às vezes eu observo as montanhas lá na frente, circundando pacientemente a cidade desde sempre, cobertas com aquele verde. Sinto vontade de estar no meio daquele mato, enfiado numa cachoeira qualquer, desfrutando da água gelada até acabar essa estação inclemente. Confesso que o verde das montanhas não me parece tão belo quanto o da minha terra, porque o vejo através daquela névoa amarelenta da poluição, que sobe centenas de metros acima do chão, fazendo um triste degradê com o azul do céu.

Meu organismo de ser das montanhas não comporta tanta agressividade de temperatura. Não aceita esse abafamento sórdido e tampouco se acostuma ao calor que profana até as noites. As noites são regiões em que desde sempre, instalou-se em meu imaginário e em meu coração um friozinho ameno, um agradável incentivo à procura por um aconchego, seja ele qual for.E no calor inclemente de um verão que mal é chegado, percebo que há muitas conexões simbólicas a serem feitas. É um calor que emperra pessoas e instituições. É um calor que incentiva a fuga, a irresponsabilidade e a falta de compromisso. É um calor que penetra no DNA de toda uma espécie. Um calor que incita ao engano e à trapaça. Um calor que chega cedo, come muito, causa prejuízos, vai embora tarde e sai sem pagar.

Mas não é justo dizer que o calor é o culpado por tudo. Apenas me compadeço daqueles cuja vida não pode parar por causa da simples chegada do calor. Tenho mais reservas com aqueles que engolem com facilidade o marketing e a venda de conceitos de prazer e diversão que a chegada do verão oferece. A avidez pelo não-trabalho, pela não-produção, pelo ócio eterno. Sempre me surpreendi ao ver como se reclamava da chuva, do frio e de dias cinzentos, ansiando por um clima que só pode ser aproveitado adequadamente por quem não tem obrigações e responsabilidades. Jamais achei que o verão não devesse existir. Tenho ótimas lembranças de ótimos verões.

Não me dou bem organicamente com o calor, mas diferente dos seres estranhos que povoam este planeta, consigo ver a mesma estranha beleza na água de uma praia tranqüila brilhando gentilmente no sol do fim da tarde e no descer suave de uma névoa matinal sobre as montanhas, num dia de inverno na serra.  Consigo amar igualmente a beleza dos vestidos e a soltura dos corpos das moças no verão, e o indescritível prazer de se aconchegar procurando o calor num dia de inverno, onde o brilho de um olhar e o toque de um nariz gelado podem ser o prenúncio de inúmeros bons momentos. Gosto do vento, gosto do sol, gosto da chuva, gosto do azul, gosto do cinza sobre o verde. Gostaria até do calor, mas infelizmente, o calor não gosta de mim.