quarta-feira, 27 de abril de 2011

Amar é Ser Inteiro

©2008-2011 ~TheComicFan

Chega de romantismo mofado
Feito de conceitos vencidos
Já há muito ultrapassado
Que agrada aos deprimidos
Que não soa bem aos ouvidos
Exceto dos que amam o engano
Dos que por baixo do pano
Dizem que amam, que muito amam
Mas que mais que tudo,
Se enganam...
E querem viver enganados.

Eis que o Amor é uno, está posto
Amor nasce conosco, e sozinho
Nos transparece, ilumina o rosto
E se torna o fio condutor
De todo o nosso caminho

E sozinhos, equilibrados
Aprendemos que amar (ou ser amados)
É muito mais que mandar recado
Que enviar um powerpoint purpurinado
É amar antes de tudo, a si primeiro
A si em segundo, e a si terceiro
Amar de verdade é estar inteiro.

Eis que não admito ser tampa
Muito menos panela
Nem metade de laranja
Nem a metade de uma cara
Não quero ser vagabundo
Nem depositário da caridade
De um modelo de mundo
Que já se vai tarde...

Quero ter sim, a alegria rara
De ser companhia de viagem
De alguém com sensibilidade para
Comigo sentar e olhar a paisagem

Amar com plenitude é andar ereto
Pois o amor que trazemos guardado
Já deixou pra mim o precioso legado
De me reconhecer completo

Publicado no Recanto das Letras em 28/09/2009

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Oportunidades, opções e feriados felizes


Durante o feriado, entre diversos prazeres proporcionados por um ócio às vezes até criativo (e às vezes nem tanto, só papo pro ar mesmo), pela companhia de uma boa companhia e pelos momentos de tranquilidade advindos disso tudo, acabei batendo de frente com uma velha conhecida: a questão do surgimento das oportunidades. Meu cérebro até então em repouso prazeroso acabou sendo novamente obrigado a trabalhar em pleno feriado. Um assunto que surgia numa manhã recente ainda sonolenta, e que conseguiria mudar um pouco o curso das coisas, pelo menos no âmbito dos meus humores. Um tema que vez por outra retorna para se entrelaçar com o tecido da minha vida, como um fio estrangeiro, de cor berrante, a destoar da minha trama. E quando vem, é sempre acompanhado do incômodo de trinta e seis, quase trinta e sete anos de “e ses” indesejáveis e inúteis, que nada fazem além de me trazer melancolia e tentativas de culpa, e diminuição das minhas ambições a sentir-me feliz.

Volta e meia ouço alguma pessoa declarar o quanto diferente de como eu faço, aproveitaria a oportunidade de ter uma “porta de saída” daqui. De ter parentes no exterior, de ter um (segundo eles) caminho de escape para um mundo melhor. Volta e meia sinto o calor da vontade de outros em partirem de seus desconfortos e dificuldades, de se desfazerem de suas revoltas com a forma com que as coisas são aqui, em seu lugar de origem. É algo comum, é algo que há bastante tempo acontece. E que invariavelmente, me põe a pensar. Que inevitavelmente me deixa introspectivo e arredio, que me coloca em “filosofia mode on”. Já pensei e repensei milhares de vezes se sou tão somente arredio a mudanças, se minha zona de conforto é deveras confortável, ou se minha ânsia por aventuras e diferentes caminhos é pequena. Já pensei e repensei todas essas prováveis acusações que as pessoas podem vir a fazer, seja de frente ou seja de costas para mim. Já pensei, repensei, trepensei até. E a única coisa que vem é minha história de vida me relembrando e talvez me acalmando, me trazendo os pés para o chão novamente. Minha vida pode até ter sido farta em opções, mas jamais em oportunidades. Posso ter tido várias escolhas, mas essa coisa tão boa que o senso comum resolveu batizar de oportunidade, essa, que as pessoas falam com a boca cheia, como se fosse um prêmio de loteria, ou algo enormemente desejado? Não, dessa aí, eu tive bem poucas. E garanto que as poucas que tive eu aproveitei com o senso de um beduíno encontrando um oásis no deserto.

Opções e oportunidades, no âmbito da minha interpretação e da minha vida são coisas diferentes. Opção é algo que você escolhe, que em algum momento você tem o poder de decidir, mesmo que depois isso te leve por caminhos não mais escolhidos. Opção é você escolher qual carreira irá seguir, qual faculdade irá cursar, se vai continuar na sua cidade ou se vai morar em outra, se vai pagar um apartamento sozinho ou dividir com alguém. Isso é opção. Oportunidade é outra coisa. Oportunidade não é você ter um parente morando no exterior, simplesmente, mas ainda ter que se submeter a toda a via crucis de precisar de vistos e passaportes e correr o risco de não conseguir. Não é oportunidade quando um curso que você desejaria fazer, que quando feito, aí então talvez se convereria em um diferencial que talvez gerasse mais oportunidades para você, é caro demais para que você possa pagar. Oportunidade não é você ter a escolha de fazer o que quiser e o que bem entender da sua vida. Oportunidade é quando a vida te abre uma porta, e você entra por ela. No meu humilde tempo nesse planeta, foram poucas portas que se abriram, e passei por todas. Algumas tive que me ensaboar e me espremer por elas, de tão estreitas que eram.

A real oportunidade de que falo, aquela porta aberta linda, iluminada e bela, é você ter alguém que pague para você toda a educação que você escolher, e ainda assim escolher não fazer sequer a faculdade. Oportunidade é você ter recursos e apoio familiar para se tornar um empreendedor, e escolher gastar em noitadas, em seu carro, em drogas. Oportunidade é você fazer o curso que sua empresa te paga porque ela tem um programa de incentivo ou algo que o valha, mas no final é apenas a oportunidade de fazer um curso e você vai lá e faz. E quando termino esse tipo de conversa comigo mesmo, às vezes é comum me tornar impaciente com os outros. Com os que estão à minha volta, sejam eles quem forem.

Descobri com o passar do tempo que jamais duas pessoas conseguirão enxergar uma mesma oportunidade do mesmo jeito. A oportunidade verdadeira muda de cor de acordo com o olhar de quem a observa. Talvez por isso alguns não consigam enxergar o valor das oportunidades que tiveram e perderam. Talvez por isso alguns outros vejam valores inflacionados em oportunidades que são apenas opções, e talvez ainda, hajam por aí oportunidades escondidas que apenas os olhos antenados com as suas cores sejam capazes de enxergar. E quando mais uma vez o assunto me assalta, acabo fortalecendo minha vontade de proceder como acho justo para com a minha visão de paz interior, e reafirmo a minha capacidade de escorregar através das escassas portas que se abrem no meu cotidiano.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Um trem com destino à parede

Tunnel Vision - Wile E. Coyote - © Chuck Jones

Há momentos em que tudo que desejamos é controle. Controle sobre nós mesmos, controle sobre o tempo, controle sobre vários aspectos da nossa vida. E o sofrimento gerado por não termos, na maioria das vezes, como ter posse desse controle é capaz de partir-nos, de tornar-nos pedaços. Somos transformados em fragmentos de pessoas, que andam pelas ruas, que circulam em seus carros, sempre em busca de suas partes perdidas. É muito triste sentir-se fragmentado, e mais triste ainda olhar em volta e ver que a maioria das pessoas procura seus fragmentos perdidos em lugares que nada oferecem nem acrescentam. Sinto-me sozinho na busca por referências no exato momento em que olho em volta e enxergo destroços ainda mais caóticos que os meus. E como num mercado das pulgas de destroços, cada um procurando nos cacos do outro, peças para completar o vitral quebrado em que se transfigurou.

De um lado, pessoas entregando-se a crenças falidas, procurando um conforto ilusório que pouco ou nunca vem. Crenças que geram preconceito, que geram morte, ganância e violência. De outro lado, aboletam-se em uma busca intensa e obsessiva por prazeres que são via de regra, tão ou mais vazios que a própria busca. Através dessa procura incessante, encontram de maneira implacável a doença, a perda da qualidade de vida, a limitação da própria liberdade.

E no meio disso tudo, os poucos que conseguem enxergar um milímetro além sofrem mais. Sentem dor ao verem com mais clareza o tamanho da cilada que nossa própria sociedade armou pra si mesma. Somos um trem sem freios, puxando tanques e tanques de nitroglicerina rumando a toda velocidade para um túnel de desenho animado, pintado numa sólida parede. Por todo o trem, aqueles poucos capazes de divisar à distância a parede se aproximando gritam alertas desesperados. Enquanto isso, em hipotéticos vagões-restaurantes, a imensa maioria brinda em meio ao caos. Eles sorriem e se embriagam, na vã tentativa de preencher um vazio que só aumenta. Eles se embriagam, e sorriem na vã tentativa de esconder a vontade que sentem de passar para o próximo vagão. Eles sorriem e se embriagam, numa última e desesperada tentativa de se esquecerem de que foram treinados para jamais estarem em paz. Eu assisto a tudo isso, e minha embriaguez cessa. Talvez seu fim abrupto seja pela força do pranto que agora molha meu rosto. À medida que os vapores da embriaguez se dissipam, me percebo real. Estou sozinho, e confortavelmente sentado num indefinido vagão-restaurante lá pelo meio daquele mesmo trem em sua inexorável trajetória rumo à parede pintada.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Uma nova proposta de candidato



Em vista da situação periclitante da atual política no país, onde a vergonha na cara já se extinguiu e a correção e firmeza éticas são elementos da mais pura ficção, esse indivíduo de quem falarei resolveu se propor como candidato. Até o momento, ele sempre preferiu se manter discreto e por vezes até oculto. Costumava ficar à parte de qualquer debate político ou de posicionamento ideológico, apesar de ter uma leve tendência à esquerda, na maioria dos casos. Mas também nunca teve problemas em se posicionar à direita, devido à sua adaptabilidade ao cenário em que porventura se encontrasse. Mas para efeitos de classificação na ciência política e de melhor entendimento de seu perfil de uma forma geral, é um indivíduo que tem sua base firme no centro.

Tendo julgado a atual situação política do país um verdadeiro cu, com suas respectivas merdas sendo expostas diariamente nos noticiários, nosso amigo resolveu tomar uma atitude. Decidiu adotar uma postura mais ativa nesse cenário político tão catastrófico. Sim, eu digo nosso amigo, por ele ser um velho conhecido de todos nós. Dos homens, ele é amigo de infância, se conhecem desde sempre, é aquele amigo inseparável mesmo, do tipo que onde a gente ia, ele ia junto. Estava conosco em todas as nossas brincadeiras. Já no caso das mulheres, vieram dar-se a conhecê-lo um pouco mais tarde, talvez já na época do colégio, apesar de provavelmente já o terem visto um pouco antes, na companhia de seus priminhos, amiguinhos ou em alguma brincadeira na vizinhança. Mas é na época da juventude que elas começaram a se relacionar com ele, e que passaram a conviver mais amiúde com esse amigo sensível e silencioso, que muitas vezes foi responsável por preencher aquele vazio existencial, aquele espaço especial dentro do mais recôndito dos seus refúgios. E por muito tempo na vida das mulheres ele iria desempenhar um papel especial, sendo aquela companhia que deixa saudades, aquele cuja falta causa extremo mau humor em umas suspiros de uma intensa e doce saudade em outras. Aquele cara que as deixaria tantas vezes cantantes e felizes na manhã seguinte de um encontro, depois de um prolongado período sem se verem.

Na verdade, é um cara que tem uma participação fundamental na vida de todo mundo. Reconhecido de norte a sul desse país, tem uma relação amistosa com todos os brasileiros, sendo que em cada região de nosso imenso país, recebe um apelido carinhoso e característico de cada lugar. É um cara da terra, popular, querido da mesma forma do mais humilde barraco à mais rica mansão...Um verdadeiro brasileiro.
E ainda assim... mesmo sabedor de toda essa importância, nosso amigo sempre foi um cara discreto. Não é muito de aparecer, evita os flashes e a evidência pública, preferindo trabalhar em casa, muitas vezes no silêncio de um quarto. De forma um pouco antiquada até, só sai à rua bem agasalhado. É um cara humilde, costuma andar sempre de cabeça baixa. Aliás, humildade sempre foi um de seus pontos mais fortes. Se hoje tem uma situação que lhe permite vestir-se nas melhores sedas, não esquece os tempos de juventude, onde limitava-se a dormir em cima de um saco e esperar que através do incansável vai-e-vem de seu trabalho, (que no início era sempre manual), conquistasse uma posição mais favorável, melhores locais e condições de trabalho. Em suma, um guerreiro.

Outra característica de nosso nobre amigo é a honestidade. Sempre teve a melhor das intenções, de vencer através do esforço próprio, de vencer através do reconhecimento de um trabalho bem-feito, agradando sempre a quem prestasse serviço da melhor maneira possível. Mesmo nas vezes em que não conseguiu desempenhar sua função, a preserverança não o deixava desistir, e tentava de novo, muitas das vezes com sucesso e reconhecimento pelo seu esforço. Para ele, nunca houve tempo ruim. Trabalha de dia, de noite, de manhã cedo, sob qualquer clima e sob qualquer condição. Seja dentro ou fora de casa, seja no campo ou na cidade, nosso amigo sempre está pronto a se levantar ao chamado do serviço. Sua labuta é antiga e seu emprego sim, diferente do que dizem das prostitutas, é o mais antigo ofício do mundo. Sua humildade não aceitaria tal afirmação, mas é justo dizer que através do seu incansável ir e vir, a humanidade foi construída.

E mesmo assim, sendo um indivíduo moldado por um trabalho árduo, algumas vezes até sujo, em um ambiente úmido, escuro e abafado, não se tornou alguém desprovido de educação. É um verdadeiro gentleman, que procura levantar-se para todas as senhoras, e procura manter-se na melhor e mais ereta postura quando na presença delas. Deixa a postura relaxada para os momentos de descanso. Seu prazer em trabalhar mesmo em condições consideradas não adequadas, é algo que ensina muito seus compatriotas. Ainda mais quando lembramos que sua aparência não é lá das melhores. Apesar de troncudo e musculoso, cheio de veias, é completamente careca e tem um olho só. Mas não se deixem levar por aparência. Na arena política conta muito mais a verdadeira dedicação em resolver os problemas, a diligência de entrar de cabeça nas questões que lhe são oferecidas. Nisto, nosso candidato se encontra tranqüilo, pois a capacidade de entrar e sair do assunto que se abre à sua frente, e de sua extrema vontade em explorar todos os ângulos de um problema, são atributos que definitivamente o tornam um candidato diferenciado. É, por fim, alguém cuja disposição e vontade de trabalhar fez com que recorresse inclusive à ciência moderna, para mesmo após a fase de aposentadoria, continuar podendo trabalhar, nem que fosse à base de medicamentos.

Creio, com base em todos esses fatos apresentados, que jamais encontraremos um político mais qualificado que esse. Por isso, aconselho seriamente... Nas próximas eleições, mandem seu voto para o Caralho. E ele sendo de fato eleito, fiquem certos de que toda essa incompetente e sugadora classe política que temos hoje, será solenemente obrigada a engoli-lo. E hoje, isso seria a melhor coisa que nosso país poderia esperar, não é mesmo?