terça-feira, 26 de julho de 2011

Meditação Forçada




E lá foi a socialite para a Índia
Não bastava a cafeína
Nem o cão, cheio de frufrus
Nem as festas com cocaína

Não bastou posar para a Playboy
Nem ter vivido o hedonismo...
Nada impediu o vazio que corrói
E seu atual estado de egoísmo.

Entre uma compra e outra no shopping
Resolveu: vou partir pra Índia!
Lá eu vou encontrar com Deus!
O místico será meu anti-doping!

E assim sucedeu, partiu numa manhã
Com milhares de malas, cheias de panos
De bagagem de mão, uma esperança vã
E a firme resolução de cumprir seu plano.

Qual não foi sua surpresa, ao lá chegar,
Que estranho, que fedorento, que pobreza.
Apinhado de gente, pitoresco lugar...
E a dondoca já não tinha tanta certeza
De que era ali que realmente queria estar.

E seguiu, ao Ashram do mestre famoso
Na porta, belíssimos carros esporte
Os mais exclusivos, e de valor espantoso
De gente que queria entender vida e morte.

E ficou lá, se achando a iluminada
Na companhia de milionários culpados
Aprendendo a orar, gastando uma bolada
Deixando o mestre cada vez mais incensado.

Mas iluminação de verdade, ela conheceu
Em um passeio certo dia, desprevenida
No centro da cidade, imprevisto ocorreu
Precisou de um banheiro, (ou coisa parecida)

Indicaram uma casinha, suspeita então.
Sem vaso, sem descarga, sem vaidade
Quatro paredes, um buraco no chão
Pra fazer as suas tais necessidades...

E o papel, onde estava? Não tinha.
O costume local é usar a mão esquerda
E perto do buraco, um pote ou latinha
Onde limpa-se a mão suja de “mêr-da.”

Acabou ali, a graça da nossa amiga.
Seu encontro com Deus falhou.
Foi embora daquele país de formiga.
E pra lá, nunca, nunca mais voltou.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Viver ou Sonhar?


Não sejas vítima! Não faça seu sonho morrer. Não faça o pobre correr o risco desnecessário de se trancar num armário por conta de tua imprudência, ou da infantil carência, de não saber diferenciar. A ilusão, do trocar a paixão pelo real amar, o frisson pelo real sonhar, o viver, pelo ilusório de ser.

E aprenda com a vida, querida. Aprenda. E aprendendo, compreenda... Que viver um sonho vale. Ainda que o sonho se cale sob a tua insistente noção de matar cada sonho bom, para viver de ilusão.

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Adaptado do poema "Viver um Sonho" (Junho/2009)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Porque eu "detesto" a Tati Bernardi


Assim como são as pessoas são as criaturas, e se fôssemos todos iguais o mundo seria chato além da conta, certo? Porque digo isso? Porque não gosto dessa autora, a tal da Tati Bernardi*. Tudo que ela escreve me passa uma sensação de desvario, glicose em excesso, sentimentalismo exacerbado e culto ao erro. Me pergunto quantos diabéticos já não devem ter morrido lendo os escritos dela.

Cá do meu canto, continuo na minha função de observar vocês terráqueos na sua eterna atividade de quebrar a cara e não aprender. E vejo o quanto a celebração dos extremos é importante para vocês, habitantes desse planeta. As mulheres, claro são as que puxam o bonde. Os homens, dominados por elas desde sempre, só fazem o que elas querem, seguem o bonde. O sucesso que fazem os textos dessa moça são um exemplo dessa civilização que se criou, onde a paixão, onde o calor, onde a adrenalina e a emoção no máximo são a tônica. É uma civilização sem sutileza, que desconhece o prazer do autoconhecimento, da delicadeza, e da paz de espírito. É a civilização onde o sofrer, o se dar mal, e os becos sem saída emocionais são celebrados com passadas de mão na cabeça.

Imagino um futuro onde as pessoas não terão medo de se relacionarem umas com as outras, construindo laços de formas e cores variadas. Amor será algo superior a essa mania de paixão, a esse produto que se inventou. Mas para chegar-se nesse ponto, seria necessário que se parasse de vender (ou traficar?) a paixão como um produto tão mais atraente que o amor. Tal como são as drogas, só que nesse caso, algo perfeitamente legal, permitido, estimulado e vendido como mais do que realmente é.

A paixão e a cultura em torno dela, está para o espírito humano como o fast food está para o corpo. É bem-vendido, se acha em todos os lugares, é barato, colorido e atraente, mas não presta pra saúde. Já o amor, ah... o amor é a comida caseira, é aquela coisa que os vendedores da paixão insistem em taxar de sem graça, de demodé, de sem sal. As Tatis Bernardis da vida só comem paixão, são as primeiras a pularem dizendo que sem paixão a vida não existe. Pera lá! Quem disse, cara-pálida? Não no meu planeta. No meu planeta quem manda é o amor. Porque o amor em vez de tirar a consciência, de nublar a visão, nos torna mais lúcidos. E quando somos mais lúcidos, nossa visão fica mais sensível. A ponto de vermos nas coisas mais simples da vida cores que nem pensávamos que existiam.

Não que a paixão não devesse existir. Mas que se venda com seu verdadeiro tamanho, importância e informações nutricionais impressas na embalagem, por favor.

Muito amor pra vocês.


* Tati Bernardi é uma escritora e roteirista de TV paulistana. Seus textos são muito bem escritos, mas fazem um mal enorme à saúde emocional das pessoas.