segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Trabalhadores do Meu Brasil


Sonhei que o dia chegava
E tudo vinha mais fácil
Era o destino que me pagava
E ainda breve esperava
A minha vida tão dura
Tão suada e sacudida
Essa vida bandida
De quem trabalha sem futuro
De quem perde a saúde na lida
De quem dá todo dia duro
Sem saber de sua guarida

Sonhei que a noite chegava
E o descanso me bastava
E a dor, essa não tinha
E que a nega me sustinha
E os filhos me chamavam
E eu ria com eles na sala
E a coisa toda ia bem
E não devia nada a ninguém
Mas a vida não é assim
Não tem tanto pra mim
Não tem razão pra gemer
Mas não tem razão para rir
Só tem razão pra viver

Sonhei que o domingo chegava
E o som de passarinho cantando
E o barulhinho do café passando
Me dava um pouco de alento
Mas no meu tanto de sofrimento
É um domingo que passa
É mais um dia que vai
É uma vida quebrada
Que nem a pedra da vidraça
Da janela de meu pai
Que um dia eu quebrei
E que apanhei e chorei
E aprendi a ser homem
E a carregar meu nome
Com respeito e tristeza
Porque se o respeito existe
Existe mais a pobreza
E dessa, eu sei bem...
Nela eu vivo, me agüento
Trabalhando como jumento
Não importando qual empresa

Até o dia que cairei de cansado
Se vou morrer de repente
Ou se com a mulher do meu lado
Ou com os meninos em volta
Só Deus quem sabe, e Nossa Senhora
O dia certo e a minha hora
E o lugar que eu vou quando for embora.

Publicado no Recanto das Letras em 27/11/2008