segunda-feira, 25 de abril de 2011

Oportunidades, opções e feriados felizes


Durante o feriado, entre diversos prazeres proporcionados por um ócio às vezes até criativo (e às vezes nem tanto, só papo pro ar mesmo), pela companhia de uma boa companhia e pelos momentos de tranquilidade advindos disso tudo, acabei batendo de frente com uma velha conhecida: a questão do surgimento das oportunidades. Meu cérebro até então em repouso prazeroso acabou sendo novamente obrigado a trabalhar em pleno feriado. Um assunto que surgia numa manhã recente ainda sonolenta, e que conseguiria mudar um pouco o curso das coisas, pelo menos no âmbito dos meus humores. Um tema que vez por outra retorna para se entrelaçar com o tecido da minha vida, como um fio estrangeiro, de cor berrante, a destoar da minha trama. E quando vem, é sempre acompanhado do incômodo de trinta e seis, quase trinta e sete anos de “e ses” indesejáveis e inúteis, que nada fazem além de me trazer melancolia e tentativas de culpa, e diminuição das minhas ambições a sentir-me feliz.

Volta e meia ouço alguma pessoa declarar o quanto diferente de como eu faço, aproveitaria a oportunidade de ter uma “porta de saída” daqui. De ter parentes no exterior, de ter um (segundo eles) caminho de escape para um mundo melhor. Volta e meia sinto o calor da vontade de outros em partirem de seus desconfortos e dificuldades, de se desfazerem de suas revoltas com a forma com que as coisas são aqui, em seu lugar de origem. É algo comum, é algo que há bastante tempo acontece. E que invariavelmente, me põe a pensar. Que inevitavelmente me deixa introspectivo e arredio, que me coloca em “filosofia mode on”. Já pensei e repensei milhares de vezes se sou tão somente arredio a mudanças, se minha zona de conforto é deveras confortável, ou se minha ânsia por aventuras e diferentes caminhos é pequena. Já pensei e repensei todas essas prováveis acusações que as pessoas podem vir a fazer, seja de frente ou seja de costas para mim. Já pensei, repensei, trepensei até. E a única coisa que vem é minha história de vida me relembrando e talvez me acalmando, me trazendo os pés para o chão novamente. Minha vida pode até ter sido farta em opções, mas jamais em oportunidades. Posso ter tido várias escolhas, mas essa coisa tão boa que o senso comum resolveu batizar de oportunidade, essa, que as pessoas falam com a boca cheia, como se fosse um prêmio de loteria, ou algo enormemente desejado? Não, dessa aí, eu tive bem poucas. E garanto que as poucas que tive eu aproveitei com o senso de um beduíno encontrando um oásis no deserto.

Opções e oportunidades, no âmbito da minha interpretação e da minha vida são coisas diferentes. Opção é algo que você escolhe, que em algum momento você tem o poder de decidir, mesmo que depois isso te leve por caminhos não mais escolhidos. Opção é você escolher qual carreira irá seguir, qual faculdade irá cursar, se vai continuar na sua cidade ou se vai morar em outra, se vai pagar um apartamento sozinho ou dividir com alguém. Isso é opção. Oportunidade é outra coisa. Oportunidade não é você ter um parente morando no exterior, simplesmente, mas ainda ter que se submeter a toda a via crucis de precisar de vistos e passaportes e correr o risco de não conseguir. Não é oportunidade quando um curso que você desejaria fazer, que quando feito, aí então talvez se convereria em um diferencial que talvez gerasse mais oportunidades para você, é caro demais para que você possa pagar. Oportunidade não é você ter a escolha de fazer o que quiser e o que bem entender da sua vida. Oportunidade é quando a vida te abre uma porta, e você entra por ela. No meu humilde tempo nesse planeta, foram poucas portas que se abriram, e passei por todas. Algumas tive que me ensaboar e me espremer por elas, de tão estreitas que eram.

A real oportunidade de que falo, aquela porta aberta linda, iluminada e bela, é você ter alguém que pague para você toda a educação que você escolher, e ainda assim escolher não fazer sequer a faculdade. Oportunidade é você ter recursos e apoio familiar para se tornar um empreendedor, e escolher gastar em noitadas, em seu carro, em drogas. Oportunidade é você fazer o curso que sua empresa te paga porque ela tem um programa de incentivo ou algo que o valha, mas no final é apenas a oportunidade de fazer um curso e você vai lá e faz. E quando termino esse tipo de conversa comigo mesmo, às vezes é comum me tornar impaciente com os outros. Com os que estão à minha volta, sejam eles quem forem.

Descobri com o passar do tempo que jamais duas pessoas conseguirão enxergar uma mesma oportunidade do mesmo jeito. A oportunidade verdadeira muda de cor de acordo com o olhar de quem a observa. Talvez por isso alguns não consigam enxergar o valor das oportunidades que tiveram e perderam. Talvez por isso alguns outros vejam valores inflacionados em oportunidades que são apenas opções, e talvez ainda, hajam por aí oportunidades escondidas que apenas os olhos antenados com as suas cores sejam capazes de enxergar. E quando mais uma vez o assunto me assalta, acabo fortalecendo minha vontade de proceder como acho justo para com a minha visão de paz interior, e reafirmo a minha capacidade de escorregar através das escassas portas que se abrem no meu cotidiano.