quinta-feira, 9 de junho de 2011

Rango



Há mais de uma maneira de se gostar, ou não, de um mesmo filme. Só que às vezes, a gente esquece disso. Ultimamente, temos assistido (me incluo aí, mea culpa mode on) os filmes cada vez mais no piloto automático, como se a razão de ser dessa atividade fosse um simples chegar ao fim da fita e emitir um thumbs up ou thumbs down. Mas este filme foi capaz de me fazer dar um tempo no piloto automático e assistir algo com gosto, não pra dizer se é bom ou ruim apenas, mas pelo prazer do passeio.


Para chamarmos um filme de bom, pesa para o resultado final o desempenho de atores, a mão do diretor, a questão dos efeitos especiais? Claro, tudo isso é levado em conta para que se dê uma opinião sobre gostarmos ou não (e o quanto) de um filme. Mas depois de ter lido algumas críticas um tanto discordantes sobre Rango (2011) de Gore Verbinski, e finalmente tê-lo assistido, percebi tratar-se de um daqueles filmes que pede uma apreciação um pouco diferente. Tive que ir além do trabalho das vozes dos atores, da produção da animação e do estilo que Verbinski imprimiu na coisa toda. Pra captar bem as reais qualidades desse filme, precisei lembrar que às vezes o que de nós mesmos projetamos no filme que passa ali na tela,  é tão importante quanto o filme projetado na tela para nós.


Definitivamente o filme não é pra crianças, e isso se percebe nos primeiros diálogos. Tomando como ponto de partida um viés completamente existencial, assistimos a trajetória de um pequeno camaleão verde que vive num terrário, completamente perdido quanto a  seu papel no mundo. Após um acidente, nosso amigo réptil vai parar em uma cidade perdida no deserto de Mojave, habitada por personagens típicos da região e do imaginário western. Alçado à categoria de xerife após criar de última hora para si a persona destemida de nome Rango, ele tem a partir de então, se não a resposta para o “quem sou eu” existencial, ao menos um objetivo à frente: proteger a cidade e seus cidadãos de seus inimigos.


O que se vê daí pra frente é um desfile muito rico de citações a vários filmes, (mais frequentemente do gênero western, mas não só) pontuados por algumas surpresas interessantíssimas e encenados por “atores” digitais maravilhosamente desenhados. Os animais-personagens são perfeitos ao retratar a feiúra e a personalidade dos habitantes do deserto. A produção acerta tanto pelo lado da história natural, ao mostrar animais perfeitamente reconhecíveis, quanto pelo lado da adaptação desses mesmos animais à aparência e aos trejeitos,  cacoetes, e linguajares dos típicos componentes do universo do oeste americano. Como ponto negativo, destaco apenas alguns vícios trazidos pelo diretor de sua série Piratas do Caribe, o que faz com que algumas vezes, Rango lembre a série citada mais do que o necessário ou desejável. Mas esse ponto não tira o brilho do filme para quem, como eu, pôde reencontrar conceitos e símbolos do velho oeste misturados a uma animação competentíssima, recheada de personagens engraçados e dublados por atores talentosíssimos. Entre os talentos que emprestaram voz para alguns personagens no original em inglês, temos além de Johnny Depp na voz do protagonista, gente boa como Alfred Molina, Harry Dean Stanton, Bill Nighy, Ned Beatty, Ray Winstone, Abigail Breslin, e Timothy Olyphant.

Recomendo para qualquer um que goste não somente do gênero western, mas de animação em geral, com um tom mais adulto. Me diverti. Uma dica: após o fim do filme, assista os créditos finais. O clipe, que acompanha a música título do personagem principal, é um pequeno show à parte.