terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Três é Demais? (Parte I)

Esta é uma história real. Não aconteceu comigo, nem com alguém que eu conheça lá muito bem. Tampouco se trata de um daqueles famosos casos tipo “um amigo meu contou”. É uma história que acompanhei em parte à distância, em outra parte por relatos de pessoas bem mais próximas dos personagens que eu. E é uma história que já deve ter se repetido tantas vezes por aí, nesse nosso mundo, que mesmo ocultando os nomes para proteger a identidade das vítimas, as informações restantes são mais que suficientes para poder montar esse relato. E para que ainda assim, eu corra o risco de que seus protagonistas se reconheçam aqui.

Ronaldo e Mariana (nomes fictícios, porém bem próximos dos verdadeiros) formavam um casal feliz. Consideravam-se uma dupla bastante normal, modernos e bem-resolvidos. Juntos desde a época do ensino médio, morando numa cidade de médio porte e de bom nível de vida no interior do estado. O fato de seu relacionamento ter atravessado período de faculdade, por todas as fases entre noivado, casamento, montagem de casa, e vida a dois sem terem tido grandes brigas, ou idas e vindas, ou crises com separações mesmo que temporárias, tinha deixado em ambos uma confiança bem grande na solidez de sua relação. Se amavam de verdade. Se gostavam. Se respeitavam. Sentiam tesão um pelo outro.

O aspecto tesão, principalmente, era visto pelos dois praticamente como o símbolo-mor do sucesso daquele relacionamento. O relacionamento, contando namoro e casamento já chegava às portas dos 12 anos. E na cama, sempre tinham sabido evoluir bem, das primeiras experiências do início do namoro até o domínio de várias capacidades em dar prazer um ao outro. Dentro do quarto, sempre foram extremamente democráticos, sem-vergonha, desinibidos. E mesmo individualmente, reconheciam que tinham libidos e impulsos sexuais com forças equivalentes. Sentiam com sinceridade que formavam uma boa equipe.

Em algum momento nessa virada dos 12 anos de relação, Ronaldo começou a sentir um pequeno pulsar de insatisfação. Não algo incômodo, nem algo que o fizesse desgostar do sexo que fazia com Mariana, também nada que o fizesse mudar de idéia quanto ao que pensava a respeito da qualidade de sua vida sexual. Apenas um pulsar, um pequeno comichão de curiosidade, uma vontade de saber mais sobre formas mais radicais de sexualidade. Ele sempre tivera uma curiosidade sexual aguçada, até mais acentuada do que a esposa, embora essa curiosidade fosse de fôlego curto. Gostava muito de pornografia, masturbava-se regularmente, adorava ver sacanagem na internet. Mas seu envolvimento com isso era sempre algo raso, algo somente recreativo, ou para inspirar tesão e satisfazê-lo de maneira mais imediata. Só que ultimamente Ronaldo, movido pela curiosidade de sempre, acabava detendo-se mais no que brincava ser o “submundo da internet”, não só satisfazendo-se graficamente, mas também lendo, analisando, pensando em possibilidades. Por um tempo, uma idéia começou a tomar forma no fundo de sua mente, de maneira lenta e gradual, até aparecer com força e identificar-se como uma pequena obsessão que se iniciava. Ronaldo começou a alimentar a fantasia de fazer sexo a três. A coisa tomou forma, floresceu em sua mente, e quando deu por si, havia todo um cenário pensado, onde a idéia de dividir sua mulher (seu amor, sua gostosa, sua safada, sua putinha) com outro homem o deixava cada vez mais excitado.



Mariana era uma mulher simples. Não simplória, nem burra, nem de mente pequena, limitada, nada disso. Simples. Era uma ótima pessoa. Seus impulsos, seus movimentos pela vida, seu jeito de ser como um todo, era baseado na simplicidade.Tivera uma educação sexual inexistente dentro de casa, bastante interiorana. Família católica, muito diálogo sobre a vida, mas muita vergonha , e diálogo pouco ou nenhum sobre sexo. Tudo que sabia na época em que começou a namorar com Ronaldo, aprendera com amigas, na escola, nas conversas com colegas mais saidinhas, enfim...era àquela altura o tipo de menina que morria de vergonha até de pensar em se masturbar. Com a vinda do namoro, com a convivência com Ronaldo, com a confiança construída com o tempo, considerava que aprendeu bastante. Descobriu-se mulher. A cumplicidade de Ronaldo, as informações que a curiosidade natural dele pelo sexo lhe traziam, e a vida a dois do casal fizeram com que o orgasmo, a masturbação, as pequenas fantasias, as brincadeiras eróticas, passassem a fazer parte de sua vida. Davam-lhe prazer não só pelo sexo, mas por sentir-se possuidora de um poder, de algo que sabia ter sempre existido dentro de si, mas que sua sexualmente repressora educação não tinha permitido que desenvolvesse antes. Simples como era, Mariana atirou-se aos seus impulsos sexuais com prazer e alegria. Encontrou-se com toda sua simplicidade, como uma mulher que gostava muito de sexo, simples assim. E compartilhava seus desejos com Ronaldo, divertia-se, tirava deles muito prazer, e era feliz com isso.

Até o momento em que Ronaldo veio com a proposta. No início, começou como sempre que tinham uma idéia nova, uma nova fantasia, uma nova travessura sexual. No meio de um ato sexual, na hora em que ambos gostavam de trocar palavras loucas, um e outro xingamento, uma ou outra fantasia solta, Ronaldo mencionou a idéia de transarem a três com um segundo homem. Mariana assustou-se um pouco mas entrou na brincadeira, achou que Ronaldo falava só como componente de excitação da transa. Mas a cada vez em que transavam, ele tornava a entrar no assunto, e ela parou pra pensar. Sentia-se um pouco insegura, não pela fantasia em si. Nem pela ideia ser algo tão exótico. O que a preocupava mais era uma certa insegurança, uma certa intuição de que talvez fosse uma má idéia. Considerava-se uma mulher segura, já não era mais uma adolescente inexperiente, mas como considerava seu relacionamento sexual tão mais saudável que o de tantas mulheres com quem tivera oportunidade de conversar, nunca tinha considerado a hipótese de incluir uma terceira pessoa (fosse homem ou mulher) em suas fantasias sexuais. Então, quando sentiu-se à vontade para tocar no assunto com Ronaldo fora da cama, procurou manter a cabeça aberta ao máximo, mas não podia evitar de sentir uma incômoda insegurança, e mais profundamente ainda, a sensação de que aquilo não era algo que fosse acabar bem.



Mariana estranhou um pouco o jeito de seu marido. Obviamente já tinha visto muitas vezes Ronaldo animado, querendo muito alguma coisa, mas não daquele jeito. Ela associou seu jeito ao de um vendedor desesperado para concluir uma venda. A ansiedade com que ele tentava convencê-la de que seria legal, de que seria um passo à frente em seus currículos sexuais, de como era algo que tanta gente fazia e que não tinha nada a ver, bastava fazer e acabou, e milhares de outros argumentos. Mariana já tinha sentido um pouco de lentidão para digerir a ideia em si, mas com aquela mudança de comportamento de Ronaldo a coisa se tornou ainda mais difícil. Sendo assim, ela pediu que ele desse um tempo, que ia pensar no assunto. À medida que o tempo passava, Mariana pesava prós e contras, analisava a questão, mas sempre com Ronaldo por perto, não exigindo uma resposta, mas tocando de leve no assunto, deixando no ar informações a respeito, ou dando sinais de que estava tudo bem. Não chegava a insistir na resposta, mas também demonstrava que esperava muito por ela. Quando ela finalmente chegou a uma decisão, pesou bastante ter achado que Ronaldo tinha sido cuidadoso em deixar por conta dela a palavra final na escolha do parceiro, e ainda com a promessa de que ela poderia parar o processo a qualquer momento se sentisse que não estava 100% certa de que era pra acontecer. Só que ainda assim, mesmo com todas as garantias e promessas que Ronaldo tinha feito, mesmo com a diminuição da insegurança que sentiu a princípio, em seu íntimo Mariana ainda tinha uma intuição muito discreta de que algo poderia não dar certo. Um último pensamento que passou por sua cabeça, e que fez com que se convencesse afinal, foi o medo que nasceu ao assistir a ansiedade de Ronaldo. A segurança que sentia durante todos esses anos de relação com ele, começou a balançar um pouco, pois imaginava que se dissesse não, por mais que ele dissesse que não queria obrigá-la a nada, fizesse com que ele começasse a desanimar do sexo com ela. E que isso escalaria até chegar a um futuro de insatisfação mútua, que era um cenário que ela não desejava de maneira alguma. Achou, afinal que valia a pena fazer aquela loucura para manter seu casamento em seu devido lugar.

(Continua)