quinta-feira, 21 de junho de 2012

Pelo direito de não ser esquerda... e nem direita!


Ou em outras palavras, fuck the maniqueism!
Pouco tempo atrás, em uma das redes sociais em que participo, tive uma particular discussão política com um de meus contatos. Trata-se de uma figura camarada, porém dada a radicalismos políticos. Problema, pois dentre as poucas coisas às quais me posiciono "radicalmente" contra, estão os radicalismos políticos. Se Buda já sabia que o caminho do meio é melhor (apesar de ser infinitamente o mais difícil), não acho que nas convicções políticas a coisa devesse ser lá muito diferente. O referido colega é uma figura obsessiva, do tipo que escolheu um lado e a partir de sua escolha, passou a achar inconcebível que seu lado esteja errado. É do tipo que refuta veementemente qualquer tentativa de fazê-lo ver que o mundo é muito mais que azul ou vermelho, e que o vermelho pode errar, não importa se menos, tanto ou mais que o azul. A criatura simplesmente escolhe não aceitar erro algum partindo do lado que escolheu. Em suma, entrei em embate com um pentelho. Um verdadeiro pentelho.

Trata-se de um daqueles tipos, esquerdista clássico, egresso de uma cultura pós-hippie setentista, fruto de um tempo que não amadureceu com o passar das primaveras. Com apenas um detalhe de modernização, se chama de "progressista", já que hoje em dia parece demodê chamar alguém de esquerdista ou direitista... Os gênios da nossa intelectualidade de esquerda então danaram a chamar todo mundo de progressista ou conservador (poxa, vida! Que grande diferença não? Tudo vai mudar depois dessa, não é?). Mas enfim... o cara é do tipo que anacronicamente, ainda vive a primavera socialista, que ainda enxerga flores imaginárias em fotos de gulags soviéticos e que idolatra Mao Tsé, Lênin e Marx com o mesmo fervor religioso com que as velhinhas da paróquia do Rosário rezam seus terços a Nossa Senhora da Cabeça ou a São Charbel ou às 13 Almas. É do tipo que acredita que Lula não sabia. É do tipo que acha que o mensalão não existiu, foi invenção da oposição. É do tipo que acredita que Zé Dirceu é um cara e tanto, e se tivesse uma filha deixaria casar com ele, se fosse o caso.

Aí, pouco tempo depois disso, vem essa semana de Rio+20, onde vejo tanto erro, tanto equívoco em forma de pensamento humano, e me desanimo um pouco. De um lado vejo essas jovens esquerdas, esse povinho recrutado nas universidades públicas, que repete os mesmos bordões e frases de efeito de 30, 40, 50 anos atrás. Que se engaja em manifestações desprovidas de valor prático, sem direcionamento, movidas apenas por uma ideologia que cada dia que passa se torna uma ideologia pela ideologia. E vejo os embates entre esse tipo de direcionamento e o reclamismo das "viúvas da ditadura", uma parcela ignorante que acha que o modelo patriarcalista, paternalista, hipócrita e competente em se manter poderoso da parcela "tradição-família-e-propriedade" de nossa sociedade é melhor. Os que pregam um retorno à ditadura militar, os que apóiam uma continuação do capitalismo selvagem. Vejo que falta opções, vejo que tudo que há são embates ridículos entre os 2 lados.

E me lembro que pouquíssimas são as pessoas que conseguem escapar do padrão. Poquíssimas são as pessoas que conseguem erguer o pescoço acima da manada. Pouquíssimas são as pessoas que conseguem quebrar o gesso desse maniqueísmo que colou na humanidade pelos séculos XIX e XX e que continuamos arrastando século XXI afora. Mesmo levando em conta que esse gesso do "ou preto ou branco", do "ou comunista ou capitalista", "ou machista ou feminista", "ou sádico ou masoquista" já está sujo, fedorento e cada vez mais pesado e cansativo de se arrastar.

Vejo o mundo mudando pra pior, a quantidade de gente aumentando como uma infecção, os recursos naturais sendo consumidos a uma taxa tal que precisaríamos de um planeta e meio para dar conta da demanda. Vejo acontecer conferências como a Rio+20, que no próprio nome traz a impressão do fracasso, juntamente com a sensação de que 20 anos depois da Eco92 nada de efetivo se realizou. Temo pelo estabelecimento de um padrão que definirá que a cada 20 anos nos reencontraremos para assistir jovens idiotas abraçando uma utopia esquerdista ultrapassada, para assistir índios fazendo figuração sem saber de onde vieram e tampouco para onde vão. Marcamos para daqui a mais 20 anos outro encontro, para vermos os mesmos revoltados de mente curta praguejando contra os ecologistas, contra os fumadores de maconha e defensores do aborto, enquanto sonham com a volta de uma ditadura que pudesse "botar ordem nessa bagunça". Serão necessárias quantas conferências? Rio+40? +60? +80? O planeta nos aturará até lá? Pode ser que não, provavelmente dará um jeito de se livrar de nós, como nós próprios fazemos quando temos uma dor de cabeça que chega ao ponto de incomodar. Não acho sábio encher o saco do planeta. Nossa mãe terra pode se automedicar e aí ficarão só as baratas, que espertas que são, não estão nem aí para doutrinas políticas.

Se fica cada vez mais claro que nenhum sistema atual tem a solução, porque insistimos tanto em nos agarrarmos a sistemas falidos para tentarmos resolver os problemas que se acumulam? Porque vemos tantos rebeldes, tantos revolucionários, tantos iconoclastas, tantos "do contra", que adoram a idéia de derrubar tudo que aí está, mas que não tem a menor idéia de colocar nada (pelo menos nada que preste) no lugar do que se pretendeu derrubar?

Penso que à medida que a população cresce, só aumenta em quantidade. A quantidade crescente impede que se invista na qualidade do ser humano. São bilhões e bilhões de adolescentes tirando fotos nos espelhos do banheiro, fazendo bico de pato. Bilhões e bilhões de hábeis discutidores de futebol... Bilhões e bilhões de fãs alucinados de Justins Biebers e Ladys Gaga...  Sinceramente, que vão todos à merda, temos que fazer de outra forma. Não sei dizer exatamente qual, mas tenho a mais absoluta certeza, de que consumindo iPads, sonhando com Ferraris e desejando sermos loiras, não é. A forma será outra. E começará fazendo uma coisa que tem-se feito pouquíssimo: pensando diferente, olhando por outros ângulos, e quebrando a  tendência natural a um maniqueísmo extremamente limitador, que domina nossa condição humana há bastante tempo. Me recuso a ter que escolher entre Henry Ford e Pol Pot. Temos que ter outras opções. O foco tem que mudar. A política tem que mudar. A economia tem que mudar. O consumo tem que mudar. A nossa teimosia tem que mudar.

Ou isso ou a paciência do planeta acaba (a minha, muito antes), e aí nos fudemos todos. E nós aqui no Brasil, mais bonito ainda, porque estaremos fodidos de verde e amarelo.