sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Laudo médico do fim de uma relação

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O calor de uma tarde a me envolver, o verão escaldante que se aproxima e a calma de um coração tranqüilo. Entre um paciente e outro, me permito alguns minutos de descanso, dentro do consultório. Desligo o ar-condicionado congelante, abro um pouco a janela para respirar o dia. Poluído, sonoro, mas ainda assim vivo. Real. 

Pela janela, enxergo ocasionalmente uma pequena figura humana aparecendo na janela de um dos prédios lá do outro lado da avenida. Penso em você... Espere. Pensando bem, sendo sincero mesmo, não penso não. É mentira. Eu penso sim, na falta que você não me faz. Eu penso no quanto minha vida melhorou depois que você deixou de fazer parte dela, no quanto a paz passou a fazer parte dos meus dias depois que te arranquei a fórceps do meu círculo de convivências. No quanto pude me saber leve e livre de amarras e de surtos em todos os relacionamentos, de amizades e de amores que tive depois do tempo em que passamos juntos. 

Não foi um procedimento tranqüilo, uma operação fácil. Sua obsessão e não-conformismo em deixar de existir para mim fazia com que cada tentativa de contato, cada telefonema, cada SMS, cada e-mail, simbolizasse uma ofensa à minha decisão de não ter alguém como você fazendo parte da minha vida. Um dia, deixei de tentar responder, deixei de estimular sua existência, passei ao invés de extirpar cirurgicamente sua presença, simplesmente parar de oferecer alimento às suas tentativas de contatos, fossem quais fossem. Deixei pra lá o meu inconformismo, a incapacidade que eu tinha de entender porque você insistia de maneira tão enlouquecida. Deixei pra lá o incômodo que causavam suas (felizmente) cada vez menos freqüentes tentativas de contato. Deixei pra lá tudo que você representou, todo o stress que causou, toda a irritação acumulada, e apenas investi no esforço de fazer com que toda e qualquer influência tua deixasse de existir na minha vida.

 Mentiras, imaturidades, desesperos de causa, ansiedades, ciúmes, possessividades e apegos de todo e qualquer tipo são para os relacionamentos, os equivalentes à gordura, ao sedentarismo, à pressão alta, ao colesterol, ao álcool e ao cigarro para o corpo. Essa foi a causa da sua morte, pelo menos para mim. Palavra de médico.