quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Prometheus de Ridley Scott, aquele seu velho colega



Finalmente assisti ao tão falado “Prometheus”, filme que marcaria com pompa e circunstância o retorno de Ridley Scott ao gênero Sci-Fi, tantos anos após os emblemáticos Blade Runner e Alien. Procurei esperar passar o período dos rumores, evitar as críticas e ignorar todo o buxixo costumeiro que aparece normalmente à época de lançamentos, ainda mais lançamentos envolvidos por esse tipo de mística. Tornei minha desatenção ainda mais cuidadosa por conta do falatório ruidoso que fui percebendo à época do lançamento deste filme. Já acho todo e qualquer hype um ruído desnecessário à apreciação, que se dirá do hype em cima de um diretor que produziu obras tão cultuadas e admiradas quanto as citadas ali em cima. Quis que minha apreciação fosse a mais pessoal possível, e em outras palavras, queria bastante ver o que Mr. Scott tinha pra me mostrar, dane-se aí o que a crítica internacional tivesse a me dizer desta vez.

Do filme, sabia apenas que além da temática, haveriam correlações entre este e a história de Alien, o primeiro onde  Sigourney Weaver penou pela primeira vez na mão da tinhosa raça de criaturas alienígenas. Queria ver como iriam costurar tudo isso com uma história nova, tantos anos depois. E gostei de quase tudo. Entre mortos, feridos, infectados e explodidos, salvaram-se muito mais coisas do que (depois fui ficar sabendo) a crítica em geral avaliou de certa forma negativamente.

Atores corretos, gostei da atriz sueca Noomi Rapace reeditando um personagem central feminino com um peso semelhante à tenente Ripley de Sigourney Weaver do já clássico Alien, de 1979. Gostei do alemão Michael Fassbender no papel do androide da vez, com detalhes de roteiro que trouxeram certa sofisticação ao filme, homenageando rasgadamente não só toda uma linhagem de atores ingleses, mas também um certo filme clássico, interpretado por uma certa lenda do cinema, passado num certo cenário desértico. Gostei do elenco de apoio, bastante correto. A única exceção foi a utilização do (excelente ator) Guy Pearce para o papel de um ancião, que acredito ter ficado grotesco sob quilos de maquiagem e não ter contribuído em nada para o personagem. Poderia-se lançar mão de inúmeros e talentosos atores idosos (se não em idade avançada ao extremo, pelo menos que já estivessem na casa dos 70/80) para este papel em específico, o que iria contribuir tanto com estofo dramático quanto com um acabamento visual mais crível.

Nem tudo são flores. Vivemos numa época tão árida para o cinema quanto algumas paisagens alienígenas sugerem ser. Se o diretor vem de um período de grande criatividade e tão prolífico em bom cinema, é bom lembrar que a produção, o roteiro, as empresas por trás do show, são todos da boa e velha década de 10 do século 21. Sendo assim não há como escapar, por mais que se tentasse, de algumas soluções de roteiro capengas, de alguns furos narrativos evitáveis e de algumas cenas quase constrangedoras. Certas questões filosóficas são tão mal trabalhadas que deixam gosto de massa de pão crua na boca. Alguns ganchos que poderiam ser otimamente aproveitados ficam pendurados no vazio. Prepare-se para cenas dignas de filmes muito menos pretensiosos e infinitamente mais baratos, ainda que embrulhadas em papel de luxo.

No fim da sessão, fica aquela sensação de reencontro com um velho colega do tempo de colégio ou faculdade. Só que do tipo de encontro onde você acaba percebendo que a lembrança das aventuras daquela época é bem mais saborosa do que as histórias recentes que seu colega tem pra contar, por mais interessantes e novas que elas aparentemente sejam. Para fazer uma média final, misture o carinho das histórias antigas com o brilho visual e o frescor (ainda que meio esvaziado) das novas histórias e dê um tapa nas costas do velho Ridley. A média final não foi tão alta quanto nos velhos tempos, mas no fim das contas, foi positiva.