quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Viva o bandido brasileiro!*


Um bandido tem poder. Mas tem muitos que acham que não. Por mais que eu tenha engulhos quando alguém vem com aquele argumento batido de que o bandido é um excluído, um pária, um desfavorecido pela sociedade malvada, ainda tem muita gente boa por aí que sofre lavagem cerebral para repetir esse mantra. Sinto nesse tipo de posição uma canalhice tão profunda, um cheiro tão azedo de revoltinha revolucionária adolescente mal resolvida, que chega ao nível do patético. É o fedor de quando as pessoas agregam a uma ideologia um fervor tão religioso, de um fanatismo tamanho, que qualquer coisa dita em nome daquela ideologia passa a ser sagrada, assume ares de uma lei divina e indiscutível.

Mas um bandido tem poder. Diferente do que dizem os defensores ferrenhos dos direitos humanos dos criminosos, um bandido tem poder. Principalmente no Brasil. Nosso país é a pátria dos mais poderosos criminosos do mundo. Aqui, não são só os ricos, “as elites” que se beneficiam da impunidade. Nosso sistema, nossa segurança pública são tão falhos, tão falidos, que mesmo um ladrão pé-de-chinelo pode contar com boas possibilidades de receber seu quinhão de impunidade. Nisso o Brasil tem se superado cada vez mais: na socialização da impunidade. E mais, ao que parece, tem estendido aos bandidos vários benefícios, como se eles fossem parte de um programa não-oficial do governo. O que antes era chamado de roubo de cofre público, de corrupção, locupletação, hoje é chamado de forma carinhosa de “malfeito”. O que antes era um ladrão, um assassino, um criminoso comum, hoje é chamado de vítima da sociedade, considerado um indefeso que se revoltou com esse sistema tão mau que faz com que ele, para ter o tênis de marca, as correntes de ouro e o dinheiro para comprar sua diversão, precise roubar de quem conseguiu isso tudo, vejam só, trabalhando! É apenas um justiceiro, talvez, esse ora chamado bandido? Segundo a lógica (?) de alguns, o pobre rapaz armado com uma pistola representa um grito de revolta contra essas pessoas que se escravizam, trabalhando horas e horas para poder desfrutar essas mesmas coisas que o nosso valente rapaz da pistola pode roubar em questão de minutos. Ora, não é lindo esse raciocínio? Vamos defender o direito desse rapaz a um tratamento digno. Vamos impedir que as pessoas achem justo que ele seja preso, ou que sofra o risco de morrer por estar empreendendo este tipo de ação tão, digamos revolucionária.

Só que o bandido tem poder. O bandido tem o poder de uma arma de fogo carregada. Ele tem o poder conferido pela quase-certeza da impunidade. Ele tem o poder de privar da vida uma pessoa indefesa diante de sua agressão. Ele tem o poder de remover para sempre essa pessoa do convívio de seus familiares. Ele tem o poder de ser defendido por pessoas que se apressam em ver seu lado da história, mas que não tem tanta pressa assim em consolar ou procurar entender o lado dos milhões, milhões e mais milhões de pessoas, pobres, ricas, velhas, jovens, filhos, pais, irmãos, avós, uma infinita e muito mais importante amostra de gente. Todos esses milhões são as pessoas que não são criminosos, que não são assaltantes, que não são vagabundos, que não são bandidos, que não fazem apologia à vida de crime, que não fazem parte de uma organização criminosa. São apenas pessoas, são a maioria do país. São esses que tem seus direitos humanos diariamente esmagados sob o poder da violência. Sob o poder dos poderosos. Quem defende os direitos humanos deveria entender que somos todos humanos. Que defender direitos humanos é permitir que as crianças que brincam na favela desejem ser algo melhor que um ladrão que rouba motos armado de pistola. Que defender direitos humanos é pensar que um contexto social onde “a onda é ser bandido” mostra uma relação de poder distorcida e nociva. Quem defende direitos humanos deveria entender que correr para defender o direito do criminoso é uma afronta, um tapa na cara das avós, mães e irmãs que choram por seus filhos, netos, irmãos, que perdem a vida do outro lado do cano da arma de um rapaz que acha “sou sinistro mesmo, eu mato mesmo por que sou vagabundo”. E que isso acontece tanto no asfalto quanto na favela. Provavelmente até mais na favela que no asfalto, só que os defensores dos direitos humanos não entendem tanto de favela quanto pensam entender. Eles não percebem que o povo que vive na periferia quer ter uma vida melhor, quer poder trabalhar, e não gosta de viver tão próximo desses bandidos que os defensores dos direitos humanos acham tão românticos, tão contestadores.

Quem defende os direitos humanos deveria entender que uma vítima de latrocínio nada fez, não pediu para estar ali, mas que um assassino em um presídio lotado, teve que matar alguém para poder lá estar. Quem apressa-se a defender os criminosos gosta mesmo é de defender os poderosos. Porque? Ora, bandido tem poder. 
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* aviso do autor: o título desse post contém sarcasmo (essa explicação também)

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