sexta-feira, 20 de junho de 2014

Um passo à frente para o Brasil

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Tive recentemente uma conversa via redes sociais com alguns amigos onde um consenso foi a previsão de nuvens negras no horizonte dessa campanha eleitoral que se aproxima. A meteorologia política apresenta sinais claros: uma tensão no ar, temperatura elevada, pressão atmosférica explodindo, eletricidade a ponto de formar raios. O momento do país é estranho, especial. Passamos pela primeira Copa do Mundo de futebol onde o povo brasileiro conseguiu prestar tanta atenção na política quanto no futebol. O caldeirão de agitação política é composto dos mais variados ingredientes: o desconforto social, o cansaço do brasileiro comum com a situação precária da saúde e da segurança pública, a roubalheira ainda não investigada (mas de conhecimento de todos) nas obras para a Copa do Mundo, a vaia à presidente Dilma, o desencanto de uma parcela crescente da população com o governo programático e ineficiente (exceto para o próprio partido) do PT, a falta de uma oposição verdadeira e atuante ao governo durante mais de uma década por parte dos partidos que deveriam ser de fato de oposição. São muitos ingredientes num sopão estranho que chega até a borda do caldeirão, e que nesses meses que antecedem a eleição, começa a ferver. O caldo vai transbordar, disso não há muita dúvida. O que é incógnita ainda, é como. Se irá escorrer do caldeirão, se tentarão tampar e o negócio irá explodir, só o futuro dirá. Mas uma coisa é certa. Nossos políticos tradicionais, repetindo o erro de avaliação que cometeram nas manifestações de junho de 2013, não estão preparados para nada disso.

Eles entendem apenas da manutenção de suas vantagens, status e poder. Tudo que estarão pensando é em como se comportar nessa tempestade de forma a não perderem suas boquinhas. É o mais básico dos instintos de autopreservação. O político de que o país precisa ainda não "nasceu". Digo, até existem alguns que se encaixariam nessa alcunha, de "político que o país precisa", mas eles são pouquíssimos, estão perdidos boiando num mar de chorume que são seus colegas mais tradicionais. Pra que esses políticos novos (não na idade, mas na maneira de pensar a política) possam trabalhar direito, render no jogo, precisará mudar muito desse sistema que temos hoje. O sistema que funciona agora é todo montado pelos políticos digamos, tradicionais. Atende à necessidade primária deles, que é o cartel de interesses, a manutenção do poder, das vantagens e privilégios. Os políticos novos que estão lá tem muita dificuldade de jogar o jogo das velhas raposas. Não é de se espantar, pois muitas das própria regras do jogo são ofensivas aos novos políticos. Para que isso mude, o país, o sistema, e a própria mentalidade dos brasileiros precisa dar um passo à frente.


Considero que um passo à frente para nosso país seria uma "desideologização" da política. Muitos poderiam se adiantar para achar essa ideia absurda, principalmente os mais radicais, mas a ideia é simples. Vemos, no dia a dia do sistema político brasileiro, duas realidades. Uma, é um infrutífero, (ainda que democrático) debate de ideias, muito polarizado e maniqueísta. É 8 ou 80, é bem contra mal, é ou você concorda comigo ou você não presta. A outra, é uma absoluta amoralidade por parte dos jogadores, os políticos que estão dentro de campo. Não importa o partido, não importa o cargo, a grande maioria tem como preocupação primária a garantia de vantagens, poder e rendimentos para si próprio. A manutenção de seu status quo e muito em seguida, se sobrar tempo, talvez, pensar em trabalhar como político.

Essa discrepância entre esses dois aspectos vem sendo uma chaga que sangra sem parar o dinheiro dos impostos, e atrasa o país. Talvez seja a hora de uma nova "raça" de políticos entrarem em cena. Em primeiro lugar, tem de ter vontade de melhorar o país, pra que tudo melhorando, até mesmo a vida dele melhore também. E depois, tem que pensar que o país é um só, então o país vem em primeiro lugar, e a ideologia e o debate de ideias pode até existir, mas o país tem que vir em primeiro. Desideologizar a política, passa a ser então condição sine qua non para um avanço sólido, real e igualitário para nosso país.

domingo, 15 de junho de 2014

A vaia, a teimosia, a hipocrisia, e o Brasil nisso tudo.


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© Pelicano


Seguem três textos curtos a respeito da vaia à presidente Dilma na abertura da Copa, da polêmica de ataques e defesas que se seguiu ao acontecimento, e minha visão e sentimentos a respeito do evento. 

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Defender um político que está sendo criticado por não estar servindo ao país como prometeu em campanha, participando de um governo corrupto, e deixando de fazer obras de valor inestimável à nação, é muito mais indesculpável que qualquer grosseria dita numa arquibancada de campo de futebol, na minha humilde opinião.

Falta de respeito é você ser pobre, idoso, precisar de um posto de saúde e ter que ficar deitado no chão de um corredor sem atendimento não digo nem decente, mas minimamente humano.

E isso depois de DOIS MANDATOS e MEIO dessa mesma porcaria de partido no poder. Isso sim é falta de respeito e grosseria indesculpável... com o povo brasileiro. Vaia merecida.

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Gente que se sente "ofendida e revoltada" com um político sendo xingado (mais que o próprio politico se ofendeu), mas que destila tanto ou mais ódio a outros políticos que são adversários do xingado...

Gente que se arvora a defender hipocritamente as incompetências, os atrasos e as falhas éticas e institucionais desses políticos, mas que ao mesmo tempo desejam ser vistos como baluartes de moral e correção pelos seus semelhantes...

Gente que por apego a escolhas irracionais e vaidades pessoais, ignorantemente bate no peito e proclama a inamobilidade de suas próprias opiniões, como se teimosia fosse qualidade e recusa a admitir erros fosse valor.

Gente que dá muito mais importância a um político no cargo mais alto da nação ser vaiado do que à miríade de atos incompetentes, corrupções, irregularidades, crimes comprovados e mentiras que este mesmo político e seu partido promovem há mais de uma década no país.

Gente que simplesmente por ser, pensar e se conduzir assim, faz com que o Brasil nunca chegue a ser o tal "país do futuro" que tanto merece ser... por ter essa gente que é apegada romanticamente e irracionalmente às mais absurdas e paralisantes idiossincrasias.

Depois, se quiserem saber porque certas coisas no Brasil nunca mudam pra melhor, é fácil...
Perguntem pra essa gente aí...
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O povo brasileiro passou 500 anos manso, sofrendo desmandos nas mãos de todos os políticos, de todos os partidos. O problema não é só o PT. É o PT TAMBÉM. Essa é a diferença que as pessoas não entendem. Se se bate mais no PT hoje, é porque ele está com a bunda na janela, se fosse outro, que se batesse também.

O que não pode é a hipocrisia de dizer que "o PT não inventou a corrupção, etc.etc.etc." não inventou, mas criticava antes de ser governo, como se fosse imune a ela. Hoje, se chafurda na mesma lama, vai ficar ofendidinho quando for criticado? Não pode. Não tem esse direito, de maneira nenhuma.

Ainda falta muito pra mentalidade do brasileiro mudar. Mas ter-se autocrítica e perceber os defeitos em si mesmo, é altamente positivo. Perceber que temos muito o que melhorar, e encarar nossas limitações em vez de ficar só sambando que nem otários alegres e eternamente atrasados, já é um passo em direção às melhoras que o país precisa.


segunda-feira, 9 de junho de 2014

Sobre essa Copa aí...

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© epochtimes.com.br

Greves, agitações, polêmicas, reclamações. O Brasil calçou as chuteiras, mas ainda não ficou bem claro se é para torcer pela Seleção, ou se para uma aguerrida troca de caneladas simbólicas. Ou quem sabe, diante das circunstâncias, caneladas reais mesmo, nada simbólicas. Alguns torcem para que o circo pegue fogo, alguns querem que a Copa se dane, se exploda, que a Copa se foda! Já outros procuram assumir um certo bom-mocismo verde-e-amarelo, impressionados em ver que o patriotismo esportivo que os unia até tão pouco tempo atrás já não satisfaz a toda a população de maneira tão unânime. Esses que optam pelo bom-mocismo, talvez saudosos de tempos mais simples e inocentes, quando se sentia o orgulho nacional ao torcer para a Seleção na copa, criticam duramente os que não conseguem mais assumir esse papel.

A questão é que seja a Copa do Mundo de 2014 um fiasco ou não, qualquer brasileiro  minimamente sensato percebe que muitos problemas não resolvidos (ou sequer abordados) pela chegada dos grandes eventos internacionais irão permanecer. A população continuará sem ser alfabetizada decentemente e sem receber uma educação com o nível mínimo necessário para as necessidades que o futuro do país exigem. O brasileiro minimamente sensato percebe também que a saúde pública do país seguirá no CTI. Percebe que o transporte público continuará dominado por máfias, amarrado por lobbies e imobilizado por seríssimos problemas de infraestrutura. De maneira exageradamente tardia, algum indício de mudança começa a despertar na mente coletiva brasileira. Não a mudança ideal, não o "despertar do gigante" que alguns acharam ter ocorrido durante as manifestações de junho de 2013.

A mudança que percebo ocorrer é algo mais espasmódico. Algo que lembra mais ânsias de vômito do que o despertar de um sono. O brasileiro está enojado. O Brasil começa a, talvez pela primeira vez em  sua trajetória, a ter coragem de fazer uma autoanálise e de ser capaz de olhar não só seu lado bom, mas também seus defeitos e o quanto esses defeitos contribuíram para que as coisas chegassem até onde chegaram. Talvez pela primeira vez, o brasileiro tenha conseguido um início de tomada de consciência de que boa parte da (ou talvez quase toda? Ou talvez toda?) "culpa", por "toda essa merda que está aí" é do próprio brasileiro? Talvez. Ainda não se sabe o quão profunda é a capacidade de se autocriticar de nossa sociedade, ou as consequências dela, mas fica claro que o brasileiro quer mais de seu país. E que os governantes, que em última análise são apenas outros brasileiros, não sabem muito bem o que fazer com essa informação. Ou talvez saibam, mas não queiram. Fazer qualquer coisa de positivo com essa energia nova que está circulando solta pela atmosfera desde junho de 2013 implica em parar todos os planos de locupletação, trocas de favores e manutenção de vantagens. Significa deixar de fazer o que nosso sistema político foi criado já fazendo. É algo um tanto difícil de implementar.

Nesse clima, não seria sábio tentar-se empurrar goela abaixo do mundo que o país é capaz de realizar grandes eventos só pelo orgulho nacional. Seria inocente pensar assim. Sempre que um evento de nível internacional acontece, são imensas negociatas para se tirar vantagem. São inúmeras oportunidades de investimento esperando acordos bilionários para acontecerem. Um político esperto consegue capitalizar muito em cima de um evento como esse. Mesmo que o evento não seja exatamente o que o país mais precise naquele momento. Ainda mais quando é um evento que mexe com a vaidade esportiva de um povo. E quando essa vaidade esportiva consegue ser manipulada de maneira hábil por um político ardiloso, a aceitação de uma Copa do Mundo é algo que se torna bem mais fácil pela opinião pública.

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©Gustavo Duarte

Mas o que muitos amantes do esporte estão deixando de ver é que o fato de que pela primeira vez em sua história, o brasileiro está em processo de despertar um pingo de consciência (que seja) para outras coisas que não são novela e futebol. A grande maioria dos textos e manifestos nas últimas semanas criticando quem critica a Copa (vejam só) vem da parte de pessoas que vivem do futebol, trabalham com futebol, estão profundamente envolvidas no universo do futebol. É óbvio que é interesse dessas pessoas que o brasileiro não perca o interesse pelo futebol. Que o brasileiro não torça contra, que o brasileiro não dê as costas para a festa. Não é nada bonito, nem rentável, nem agradável pra quem é do show business ter a casa vazia ou vaias na plateia. Infelizmente, o que essas pessoas ligadas ao "show business do futebol" não tem conseguido perceber, é que vivemos num dos países mais hipócritas do mundo. E que numa das poucas oportunidades em que a sociedade demonstra uma insatisfação com essa hipocrisia, se tenta taxar de "chato" quem "está torcendo contra". Infelizmente, essas pessoas não percebem que por décadas e décadas de tempo perdido discutindo, amando e sendo obsessivos com o futebol como se fosse a coisa mais importante do mundo, o Brasil perdeu não o bonde da História, mas vários bondes, de várias histórias. Perdeu-se até um trem. Para ser mais exato, um trem-bala.

Se o brasileiro demonstrasse amor por seu país e cobrasse de seus governantes com a mesma determinação que demonstra por seu time ou seleção, e cobra seus jogadores e técnicos, viveríamos no melhor dos países, com os melhores serviços públicos e teríamos uma população em estado quase pleno de felicidade. Teríamos um país onde não se rouba, onde não se comete tanta violência, onde não se passa fome.  Mas não é o que acontece. Por causa da hipocrisia brasileira, se você prefere criticar o governo a bater palma para palhaçadas, você é chato. Se você não sente "orgulho" em se vestir de verde e amarelo na Copa (só na época da Copa) e torcer pro seu país, você é chato. Se você prefere que em vez de uma Copa, tivéssemos políticos decentes fazendo obras e promovendo mudanças reais e não marketing partidário e planos de manutenção de poder por meio de negociatas e vendas de cargos, você é chato. Ok, posso até ser chato, mas hipócrita eu não sou.